sábado, 11 de outubro de 2008

Queenstown

O pequeno monomotor decolou sem cerimônia de uma pista de grama. No ascenso, curvas fechadas entremostrando as Remarkables e o Wakatipo, amplas belezas.
A 12.000 pés uma luz vermelha é ligada e alguém destrambelha a porta. O câmera se empoleira num estribo e a primeira dupla se joga. Quando penso que vou sentir medo ou, quem sabe, desistir, sou jogado mundo abaixo. Instrutor a reboque.
Primeira sensação, a vertigem da queda livre, a mais de 200 km/h, enquanto vemos alternadamente o avião indo embora, as montanhas, o lago, a outra dupla, enfurecendo o vento. O sol cegou meus olhos e vi o amor de eras, Deus, um parente que já morreu.
Finda a saudação inicial dos céus, em cambalhotas, a velocidade só aumenta, o vento se adensa, as montanhas e o lago te convidam, mas há receio. Pra onde se olhe, são belezas, rápidas demais para uma contemplação. Fixa-se a imagem de coisas em ângulos e velocidades impensáveis e isso é o melhor que podes fazer.
Quando já se está aclimatando a essa dinâmica, um puxão pelas pernas e tronco informa o trabalho da vela. Falta de ar e excesso de adrenalina na corrente sanguínea são o cenário interno na aproximação do pouso. Que ocorre suavemente, na grama macia, pondo fim a tanta queda, descabida.
Delírio, insensatez, mortes controladas, brilho de vida. São 9 horas. Nada mau, para um começo de dia.
Queenstown é cidade de muitos argumentos, e recordações perenes.
Qtown, 16 de janeiro de 2008.

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