terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Oaxaca

Já sai do hotel com más intenções. Fui a um museu com tesouros pré-hispânicos. Deleitei-me com a expressividade de certas esculturas. Umas irmãs gêmeas pareciam ter vida própria.

Depois, Maria Bonita. Um queijo oaxaquenho  acompanhou a limonada. A melhor bebida de Oaxaca é a limonada com soda, julgo.

Isso foi só distração. Quando o La Biznaga abriu, adivinhem quem estava lá, junto com franceses, suecos, e todos os famintos?

Eu.

Isso mesmo. E fui de ceviche de atum (regular), e carne assada a moda oaxaquenha. Aí sim, a experiência se deu.

Uma carne em tiras de felicidade, douradas. Junto com o queijo de cabra em amêndoas, foi estabelecendo riquezas e quereres.

Depois, o chocolate local, em torta, um verdadeiro desacato.

Após um giro pela cidade, com fotografia na luz temperada do fim de tarde, voltei ao Biznaga, para uns negócios inconclusos: a salada de jamon Pata Negra. Com melões (o que sói acontecer na Itália) e peras, fechou Oaxaca, provisoriamente.

Vivenciei gusanos, mezcal com laranja e chapolins puxados no tempero. Tudo diz com um México indígena,  exuberante, exagerado.

Que bom voltar!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Oaxaca recôndita

Após experimentar gusanos (coros) e chapolins (gafanhotos), junto com mezcal, hoje fui ao Maria Bonita sentir a cozinha oaxaquenha de raízes.

Não me arrependi, não.

Sopa típica (num primeiro momento, a gente fica chateado com tanta sopa num pais tão quente, mas depois acostuma) de abobrinhas e otras cositas, preparando o prato principal: pimenta recheada com coisas deliciosas.

Depois, um café de altitude, para desbastar o sono.

Após o museu (belíssimo), e a siesta, o jantar, com cordeiro e perdiz.

Como se fosse pouco, na volta ao hostel teve um chope encorpado. O leitor fica muito chateado se eu confessar que foi com amendoins?

domingo, 29 de dezembro de 2013

Oaxaca

Não disse que o México e uma festa?

Fui a Taxco, capital da prata no México, com um soberbo conjunto arquitetônico. Por qualquer motivo, que ora me escapa, lembrou a pequena cidade Bósnia que visitei ainda neste ano.

Agora, curto esta Oaxaca indígena e maravilhosa. Ruas lotadas, restaurantes impecáveis, construções coloniais.

No passeio de ontem, comida em buffet turístico, novamente. Perguntei ao um mexicano se aquela panelada negra que me dizia frijoles era mesmo de confiáveis feijões. Confirmado, coroei o arroz com o brilhante creme negro.

Era chocolate (na verdade, mole negro, picante), e passei as três horas seguintes comendo arroz com chocolate apimentado.

Pela noite, o restaurante La Biznaga me enganou. Pedi uma entrada, veio o mais delicioso taco que já provei na vida, em porção pantagruélica. O queijo de cabra, dialogando com o abacate, fez-me sentir coisas.

Depois, um mahi mahi, que venho cuidando desde o Tahiti, trouxe convicção e encantamento ao passeio pelo coração do México. Na folha da bananeira, o Dorado se estabeleceu em minha memória de glutão.

Sabem, nem sempre sou assim, pantagruélico.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Cidade do México

Após alguns meses, estou de volta, a cidade e ao Tacuba Bar, de onde redijo estas notas.

A cidade está mais calma, sem os baderneiros de agosto; mais bonita, agradável, e fresca

Após o giro por seus monumentos, jantar degustação no Tacuba, claro que si. Tivemos camarão no abacate e sopa de aspargos, no lucro. Agora, creio que um bacalhau se prepara na cozinha.

Quem me conhece sabe da minha fissura por bacalhau.

No caso, um bacalhau desfiado, com molho adocicado. Não chega a empolgar, mas vale a experiência.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Puerto Madryn

Chope artesanal, encorpado, estilo europeu. Assaram e serviram o melhor pão que já comi na vida, por mais constrangedor que isso seja as boas padarias que já frequentei. 

O prato principal, massa caseira com frutos do mar, resultou assombroso. O restô Patagônia nos eleva noite adentro.

Eu vinha da península Valdés, de gigantes calmos. Primeiro, os elefantes na praia. Alguns filhotes aprendiam os ofícios do mar. Machos indolentes se deixavam ficar. Toleravam as crianças, que iam e vinham da água, alheios as orcas professoras.

Na Caleta Valdes, elefantes sorviam o sol, sem qualquer problema. 

Depois, abordagem de baleias na tarde impecável. A península era um lago encorajador, com azuis profundos acima e abaixo da linha d'água. Montanhas soleadas sugeriam praias ao longe.

As baleias não sonegaram sua graça, mas só as mamães apareceram, cada qual mais orgulhosa. Uma após outra, vieram mostrar sua contribuição para um mundo melhor, e mais rico.      

Todos os azuis faziam da linha d'água um limite arbitrário e desnecessário.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Stromboli

Aos pés do Stromboli
Black Sabbath entoava Changes
E foi como se o sol emitisse

Luz negra

E já não bastássemos
Nem nos reconhecêssemos
E foi tudo.

Oscilei profumundo
Visitei as origens do mal,
Não me quis.

Equivocou-se o sol, mentiu?
Gravitou  antiluz
E vaguei sombrio.

O que me dói?
Do que sofro?
De escuridão. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Baleias Franca

Porto Pirâmides. As franca conduzem seus cachorros de cinco metros pelo berçário. Elas não são feias: apenas trazem a cabeça complexa. 

As eubalaena se experimentam, deixam-se estar nessa sopa de baleias que é a Península, por agora. 

Um filhote branco nos atraiu. A mãe, faceira, o apresentou a embarcação

Outra mãe investia vigorosamente em seu filhote doente, que boiava desenganado. Não havia salvação, e os biólogos anotaram a tristeza.

Mais de mil francas vêm veranear na Península, para nossa alegria.    


Península Valdés

Descemos a Ponta Ninfa, praia onde elefantes se fazem ao mar. As crianças brincavam na água, perto das mães. Machos de 5 toneladas vigiavam da água, meio ursos, meio antas. 

Alguns, indelicados, arrotavam com saúde (eu disse arrotavam por mera cortesia). 

Um sol debruçado no precipício se despedia da praia, a mais ampla em que já estive. 

Rafting Salta

Rio tranquilo. Águas frias cortando o deserto. A mesma aragem dos condores convidava ao banho. As corredeiras, sonolentas, não surpreendiam. Apenas alguns splashes.

Nos paredões inclinados, antigas praias de oceanos arruinados, vimos subir os rastros de dinossauros, a progressão dos passos coleantes de tartarugas e colonias de estromatólitos em bolotas.

Mares soçobrados testemunham suas praias, agora em ângulo de 45 graus.

E seus antigos habitantes assinam mensagens sóbrias, cravadas na pedra. No rio Juramento a emoção não exclui ajustes em nossa efêmera compreensão de mundo. 

Acima, condores vigiavam os passos consolidados de monstros caídos.   

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

São Miguel do Gostoso

– Pra São Miguel são quantas horas? – perguntei ao taxista, no caminho do aeroporto. 

– São Miguel de quê? 

– Se nao é do Gostoso? 

Eram duas horas, passando por Touros. Uma água de coco docinha e gelada mitigou o solstício. 

São Miguel é propriedade do kitesurf, que não domino. Isso não me impediu de comer delícias locais, e freqüentar suas ventanias. 

– E quem prepara a galinha? – quis saber, percebendo o carinho do frango caipira criado na praia de Galinhos. 

– É minha filha – disse-me Jacira, 90 anos 

– Tive dezesseis filhos. Nove se criaram. Agora tenho outros, adotados, inclusive um índio... 

A tapioca doce, com coco ralado na hora fundamentou a tarde de sábado; o badejo em corte alto e o ceviche de atum libertaram a noite correspondente. 

Tudo Gostoso.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Tábua de carne


Carne de sol tenra e amanteigada. 

Meu procedimento é simples: Um naco de carne, um de melão; um de carne, outro de batata doce. 

E vou alternando o sabor da carne macia e maturada com água de coco, farinha d'água, abacaxi assado e mamão. O arroz-de-leite, o rubacão e principalmente o creme de macaxeira são invenções geniais dessa cozinha autêntica. Sim também o queijo coalho e o feijão de corda, amigo. 

O carneiro à moda da fazenda em tudo lembra o que eu comia em casa, quando aqui morei, nos idos de 86. Já o cordeiro assado, em seus caprichos brejeiros, nos faz alçar vôos deliciados. Revisito um pouco do Nordeste, de um sabor algo agreste. 

Natal, 06/10/13.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

iPad

O Garantias reclamou, com razão, da falta de fotos neste blog. Ocorre que estou sem meu computador, dispondo apenas deste tablet que já era ruim e, agora, com nova versão do iOS, virou um... 

Alguém poderia suspeitar que, véspera do lançamento de novo tablet, a Apple fez de propósito. Um novo iOS que esculacha o usuário. Teoria conspiratória. 

Correta, no caso. Impossível que um programa se torne tão escroto quanto o iOS, da noite pro dia. Só querem vender outra bolacha, pagando mendigos para ficarem na fila, simulando um frenesi de compras. Quem a Apple pensa que engana? Outro iPad? Nunca mais.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Capri

Sopraventos espantosos 
Praias marmóreas 
Mundo exagerado. 

Costa amalfitana: 
Contramundos precipitados 
Num azul de escândalo.

Veneza

Uma banda tocava uma de minhas sinfonias prediletas na praça São Marcos. Acordeão, piano, baixo e sax solidarizavam com um violino. Achei a execução, heróica, ligeiramente maravilhosa. Amanhã tem As Quatro Estações, de Vivaldi. 

2. Hoje, um espaguete negro. A pura Veneza que eu já conhecia voltou. O chope, após uma abstinência forçada no irã - e quase isso na Turquia - desceu como nos melhores sonhos. No fim de tarde saí para o parque com ameixas e uvas. Antes, em murano, um artista do vidro ficou com alguns euros, e eu com duas peças assinadas. Agora, o concerto. Após, o jantar.

Parece que é isso.

Ruínas

Exerci o caos, a vadiagem no mediterrâneo. 
Vaguei a esmo por entre ruínas e colossos. 
Séculos, idiomas e ídolos abalaram, vertiginosos. 
Inconsolável, quis um novo eu, conciliado.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

México

Finalizei essa primeira e curta visita ao México em grandíssimo estilo: o museu de Antropologia, um dos mais importantes do mundo.

Visitei oito complexos arquelógicos na península Yucatán (além de sítios na Guatemala e Honduras, em viagem anterior). O museu é síntese e apoteose dessa cultura notável.

Divide-se em três super-alas, com praticamente tudo que se encontrou das centenas de tribos que habitaram o território mexicano, nos últimos 50 séculos ou mais.

Comecei com os povos do norte, passei pelos maias, de tantas pirâmides, e concluí com os mexicas e astecas, que receberam Cortez. 

Figuras de dezenas de toneladas, em pedra, ícones em jade, marfim, ouro: eles não perdem em nada para as maiores civilizações do mundo.

Após essa jornada, um almoço degustação no Tacuba Bar fechou esse país mágico e inesperado. 

Volto em breve, para as loucuras sôfregas da Baja California.     

domingo, 8 de setembro de 2013

Popocatepetl

Hoje fui a Puebla, cidade com 500 anos de história e que lembra Sao João Del Rey, exceto pelas fábricas, quilométricas. No dia anterior, Popocatepetl, pirâmide-montanha, a terceira maior do mundo.

Depois, Cholula. Quem pensa que o México sao só astecas e maias nunca ouviu falar de olmecas, toltecas, mexicas e outros carinhas que ficam magoados quando não são lembrados. Popocatepetl, Xochimilco, Cholula, Tlatelolco e muitas outras acrobacias prosódicas fazem a língua pipocar, desconcertada, e aumentam o encanto do México. 

Finalizo em horas. Que dizer? Nadar com tubarões-baleia foi experiência de uma vida. Outros podem não se impressionar, ou mesmo esnobar a oportunidade, como vi acontecer. Eu não. Tenho necessidade de tubarões-baleia, bem como das próprias, de elefantes marinhos, raias manta e do mola mola.

Eles não são apenas os maiores e mais gentis peixes da Terra. Descrevem lúdico desenho, esses dominós risonhos, em bale gastronômico, e a visão de um tiranossauro rex mergulhando ao lado não traria maior espanto. 

Pantagruélico. Desrealizante. Você descabela ante a ária de infinita beleza que essas criaturas projetam no azul revolto.




sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Cidade do México


Manifestantes vindos de todos os cantos viraram esta cidade do avesso. Hoje, em Tlatelolco, me informaram sobre o massacre de estudantes ocorrido dias antes dos jogos olímpicos de 1968. As pessoas protestavam contra um evento nababesco, num pais pobre e desestruturado. Alguma semelhança?

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Se alquila borracho para sus fiestas

Mérida é puro México. 

Acabo de voltar do Chaya Maya, deslumbrado com a sofisticada comida de Yucatan. Um peixe cozido em seu próprios sumos, numa folha de bananeira, com frutos do mar. Junto com a tequila, inebriante. 

Amanhâ subo o morro a Uxmal e, depois, tomo o ônibus para Palenque, Chiapas. Ontem a subida da pirâmide enterrada na floresta teve êxtase imprevisto. Cobá é um sonho maia florestado. O México continua em fiesta

Estou me alugando para festas.

sábado, 31 de agosto de 2013

Tulum

Acompanho a arquitetura Maia desde Honduras e Guatemala, e fiquei fascinado com Tulum. Templos e palácios com uma praia anexa - e que praia. 

Por horas vadiei em ondas, me afogando no passado. Ontem, Chichen Itza, sob um sol digno dos maias. Hoje, Cobá e um parque natural. Você sobe a pirâmide, toda em antigo leito marinho, e se entrega a floresta. Uma neblina invadiu, lá pelas tantas, e sobrepairamos universos desconhecidos, maias. 

O México ignora o que seja tédio.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Tubarão-baleia II

Hoje reencontrei os amigos pintadinhos

Eles se fartavam na água, turva em tantas ovas. A certa hora eu e os israelenses quase fomos atropelados por um ônibus faminto, que depois sorriu, com seus dentes. Todos os quatro mil. 

Vai encarar? 

Eles dançam sob as águas – música interna – enredados no caviar abundante. A travessia foi suave, no barquinho exíguo. Ao final o ceviche – de lei tanto na polinésia quanto no caribe.

sábado, 24 de agosto de 2013

Tubarão-baleia

Isla Mujeres. Tomamos o rumo Contoy. 

O mar, invejoso, golpeou quanto pôde. Caímos na água turbulenta, enquanto barbatanas cinza, dinossáuricas, denunciavam coisas preocupantes sob as ondas. Azul com pontinhos planctônicos. 

Vi um gigante. Um ônibus pintadinho. Depois outro e mais outros. Rêmoras pajeavam as criaturas. Dominós de 15 metros lançavam suas exigências, descrevendo uma geometria alimentar. 

Ligeiramente afastado do grupo, senti um titã se aproximando, em ondas. A enorme bocarra sorvendo o mar, no que me pareceu um beijo, o maior que já me foi endereçado. Estremeci, gratificado. 

Fotografar não cabia. Na volta, tumultuada, um vento sinistro quase rouba nossas almas. O ceviche recompôs e trouxe perspectiva: da vida e da aventura. Parei de temer. É pra isso que se vive.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Rainha Vermelha

Elton Simões:
Existem rainhas de todo tipo e para todo gosto. Existem as reais e as fictícias. As boas e as más. As que habitam hospício e as que estão soltas. As que tem poder e as que não têm. Diferentes rainhas reinam diferentemente.

A Rainha de Copas, por exemplo, entre um surto psicótico e outro, gostava de cortar cabeças como forma de exercício de autoridade. A diversidade, entretanto, não garante que rainhas não venham a sofrer de patologias comuns. A mais comum parece ter como principal sintoma a crença de que o mundo tem cheiro de tinta fresca. O exercito de pessoas dedicadas a tornar a realidade mais bela, e menos agressivas aos sentidos reais parece estar na raiz do entorpecimento. Esta patologia que costuma ser afetada e agravada pela distancia física entre rainha súditos. Rainha que se preze, tem pouco contato direto com a população e, se possível, nenhuma experiência com a realidade. Faz parte do protocolo colocar a rainha acima de tudo, em posição privilegiada para enxergar sempre, ver as vezes, e ignorar invariavelmente, as lutas e dificuldades impostas pelo mundo real ao populacho.

Talvez essa distancia justifique o autismo quase mandatório que toma de assalto a cabeça da maior parte das rainhas. Talvez mesmo este autismo seja parte integrante da descrição de cargo. Ou, em hipótese provável, talvez o autismo não seja causa do comportamento, mas apenas parte da justificativa. O fato é que os sons que frequentemente saem da boca da rainha, na forma de idioma quase conhecido, mas não completamente dominado, descrevem fatos e dados que não parecem guardar muita relação com o mundo real.

Como em um circo lógico, a rainha descreve, em raciocínios tortuosos , as vezes circulares, e sempre superficiais, um mundo que somente existe em sua imaginação. Neste mundo, os números são acrobatas, e os fatos são de borracha. Felizmente, este mundo paralelo somente consegue convencer, e mesmo assim parcialmente, enquanto a maré alta encobre os problemas. Na maré baixa, vem o choque de realidade. É na maré baixa que dá para ver quem estava nadando pelado. É nesta hora que todos percebem. A rainha está nua.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O passado da mente

Michael Gazzaniga discorre sobre como o cérebro constrói nossa experiência.

Segundo ele, nossas vidas são edificadas tendo por fundamento a ilusão do eu. Nosso passado, construído, e nosso futuro, projetado, constituem belos golpes de automarketing.

Gazzaniga propõe a figura do intérprete, que reconstrói os eventos processados pelo cérebro e, ao fazê-lo, dá origem a erros significativos de percepção, memória e julgamento. Uma biografia é uma ficção. Uma autobiografia é irremediavelmente uma invenção.

Somos um agregado de adaptações, ou seja, de dispositivos mentais evolutivos que habilitam a intencionalidade e o desempenho de tarefas específicas. E a maior parte desses dispositivos atuam ao arrepio da consciência. O córtex, parte mais recente do cérebro, abunda em processos inconscientes. Blindsight é só um lembrete.

De fato, 98 por cento daquilo que o cérebro faz é exterior ao conhecimento consciente. (...) praticamente todas as nossas atividades sensório-motoras são inconscientemente planejadas e executadas, por nosso cérebro automático.

John Updike, citado pelo autor, realça:

como é notavelmente fértil, a imaginação religiosa, como é ardente o seu desejo de significação; põe deuses a surgir de cada arbusto ou rocha. A astrologia, os Ovnis, as ressurreições (...) a paixão: a sua mitologização do ser amado e de tudo aquilo que lhe diz respeito é uma religião inventada, e religiosa é também a nossa persistência em acharmos (...) que nossa vida é uma estória com um padrão, uma moral e uma inevitabilidade (...) e o universo tem uma estrutura pessoal.

O intérprete, ou programa gerador de conversa fiada (como gosto de chamar), sediado no hemisfério esquerdo, tem por missão conferir coerência ao que fazemos, pensamos e sentimos, por mais absurdo, injustificável ou desconexo. Opera com base nas atividades de outras adaptações do nosso cérebro. Esse intérprete, desmascarado no estudo de pacientes submetidos à separação dos hemisférios, em vez de se render às evidências, inventa uma estorinha tendo a si mesmo como alvo, e perpetra a ilusão de controle.

O intérprete, ao distorcer a memória e agregar vieses, produz grandes mentiras, cujo alvo principal é o próprio eu. Mentimos para nós mesmos, com terrível eficiência. Esse embuste contínuo faz-nos acreditar que somos boas pessoas, senhores de nós mesmos e que procuramos praticar o bem. E, ainda, que temos as rédeas dos acontecimentos.

A construção do cérebro.
Para que serve o cérebro? Curto e grosso: para garantir e melhorar nosso sucesso reprodutivo. Gazzaniga correlaciona sítios no cérebro a atividades específicas, rejeitando o conceito de plasticidade cerebral. E, no entanto, o cérebro aloca neurônios sob demanda, numa dinâmica de enorme plasticidade. Quem estiver ocioso, pega a tarefa pra processar (como enfatiza Miguel Nicolelis). O tema está em aberto, mas vale o registro.

O cérebro sabe antes da consciência.
Grosso modo, o cérebro conclui o trabalho neural meio segundo antes de a informação por ele processada chegar à consciência. Se batemos o pênalti à esquerda ou coçamos a cabeça, os comandos foram processados e finalizados meio segundo antes. Planos para falar, escrever, lançar uma bola são feitos na surdina, e entregues prontos, sem a concorrência da consciência.

“O cérebro começa a dissimular este aspecto do tipo “fato consumado” do seu funcionamento criando em nós a ilusão de que os eventos por nós vividos acontecem em tempo real – e não antes da nossa experiência consciente de decisão de uma ação. (...) limitamo-nos a assistir as coisas acontecerem em e para nós.”

Pensamos que temos imediato conhecimento dos estímulos e que podemos reagir num intervalo de tempo inferior a meio segundo. Escoam, contudo, milissegundos entre o início do estímulo no córtex e a percepção da presença de uma sensação (esse tempo de resposta é muito menor nos estímulos mais básicos, como o cutâneo).

Assim, pensamos que estamos a fazer coisas em tempo real quando, na verdade, já fizemos antes. Os potenciais cerebrais disparam muito antes de se ter a intenção consciente de agir. E, contudo, esses fatos consumados não transmitem a sensação de estarmos a ver um filme da nossa vida. Ao contrário, acreditamos estar envolvidos intencionalmente na efetivação da ação.

Inúmeras atividades percepcionais e cognitivas acontecem fora do reino consciente. O cérebro inconsciente toma decisões e oferece resposta elaboradas fora dos alcances da consciência.

A questão é: decide o cérebro automático fazer as coisas antes de sermos nós a decidir fazê-las? Sim, decide, conforme vem demonstrando a neurociência.

Quererá isso dizer que não temos responsabilidade final por nossos atos? Que o criminoso não deve pagar pelo ilícito? Continuamos responsáveis, é claro. Do contrário, não teríamos uma sociedade em que viver. A resposta é pragmática e utilitarista. Se parcelas de nós cometem um crime, ainda são parte de nós. Mal comparando, se o Município de São Paulo (pessoa jurídica autônoma) ficar devendo no exterior, é a República que paga, caso acionada.

Ver é crer.
Aquilo que vemos não é o que chega à nossa retina. A imagem é altamente elaborada e editada. Os truques de tratamento de imagem feitos automaticamente pelo cérebro são espetaculares, e imperceptíveis.

A informação visual recebida pelo cérebro só adentra a consciência após muito trabalho do córtex visual, que consome aproximadamente 25% do processamento cerebral humano.

A representação bidimensional do mundo é convertida todo o tempo em tridimensional, e o cérebro deve prover resposta motora também tridimensional.

Memórias verdadeiras x falsas e o intérprete.
Nossas memórias, ao contrário do que pode parecer num tribunal, não são representações exatas do passado. Ao contrário, memórias recuperadas podem ser falsas e confusas. Don Simons, no livro o Gorila Invisível, faz extensas observações a respeito, para as quais remeto o leitor.

Trabalhando com memórias modificadas, o intérprete recebeu mandato para justificar comportamentos e sensações, quaisquer que sejam. Pode-se falar num esforço de coerência, ou mantença das aparências, que depende da qualidade das informações que o intérprete recebe.

O intérprete diz-nos as mentiras em que precisamos de acreditar para não perdermos o controle das coisas, não importa quanta dissonância cognitiva, e quanto colorido artificial estejam envolvidos. O intérprete e o sistema da memória atuam combinados para fabricar histórias convenientes à nossa biografia, crenças e gostos.

O intérprete fabrica nosso mundo, gerando reflexamente explicações causais para tudo, mesmo quando não há nenhuma. Para qualquer coisa que aconteça, existe uma teoria, mesmo na completa ausência de significado. Nosso sistema gerador de hipóteses é incansável. E tendencioso.

O intérprete elabora permanentemente uma narrativa continua das nossas ações, emoções, pensamentos e sonhos. É o cimento que aglomera nossa estória e cria a sensação de sermos um agente racional de corpo inteiro, conclui o autor.

O livro recebeu recente upgrade, chamado “Quem está no comando”, que ora folheio.

11 de julho de 2013.

sábado, 22 de junho de 2013

Simão

Filosofo Simão, na folha de hoje:

Feliciano, me da um atestado que hoje acordei sapata!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Teerã

O Topkapi, em Istambul,  pode ter seus diamantes, e ate parecer nababesco. Feirinha de bijuterias, perto do museu de jóias de Teerã.

Transitei entre respeitáveis sobreviventes. Eu arriscara alguns passos, livrando alguns carros e motos quando parei no meio da pista, entre ônibus, carros e mais motos. Cuidei de espelhar o movimento de dois iranianos que me serviam de biombo, ou salvo-conduto. Um taxi quase  os colhia. Saltei a frente tentando livrar parte do corpo. Se outro carro não estivesse me esperando.

Você bem que tenta se esquivar ao menos das motos. Elas se juntam aos carros, nos dois sentidos do tráfego, e ainda desfrutam da contramão, em ambas direções. Algumas saem em louca diagonal, brotam do chão e uma delas só pode ter caído de uma árvore.

Prossegui. Rente à barragem de motos e carros, a um triz de transbordar, furiosa com minha só existência pedestre, marchei.

Com fé em deus alcancei a calçada, onde a guerrilha de motos se intensificava.

E ainda nem falei das bicicletas.

Yazd

Marrom de inalterável perfeição: montanhas, casas, o horizonte. Uma melancia calou a sede após o passeio e induziu amizades no hotel. 

Kashan: 
Fin é um oasis ajardinado, e não há coisa mais amiga em Kashan, que também tem belíssimas mansões antigas, ao estilo dos sultões. Abyaneh é uma vila vermelha na montanha. 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Dubrovnik

Cidade mais linda da minha experiência, já vasta.

Caminhei pela muralha da cidadela, ao pôr do sol. Tudo mármore e telhado marrom.

Depois, a Bósnia, e nova caminhada por esse encanto Adriático.

Dubrovnik, e seu gasto mármore, é jóia de intensa felicidade.

domingo, 16 de junho de 2013

Meus livros de cabeceira

Manual dos Insultos (compêndio). Na verdade é obra introdutória a essa arte milenar. Eu mesmo fiz generosos acréscimos ao repertório, um pouco tímido, e muitos vão de emenda, sem outro afã que contribuir. Obra edificante. Se o leitor sente algum apreço pelo meu jeito de ser, se gostou de alguma coisa que eu disse, tudo se deve à leitura atenta desse livrinho.

Kama Sutra (para lésbicas). Por puro e ortodoxo, dispensa comentários. Muito do que sou, devo a essa obra ilustrada, educativa e cativante. 

Shiraz

Na chegada a Shiraz um velho "sugeriu" o seguro estatal. Aguardei na madrugada quase uma hora pelo visto. Após uma saraivada de perguntas repetitivas, dobrei o burocrata com minha funcional. Vocês não adivinham o amor que desperta num burocrata um plastiquinho embandeirado.

Após apertar os olhinhos no pequeno cartão, dificilmente aceito no Brasil, ele pergunta:

- Judiciário?
- Te falei, rapaz. Judiciário!
- Tipo... ministerial?
- Imperial! Quase sideral! Só estou abaixo do PRE, se já não ultrapassei aquele vadio.

Visto concedido, valor pago, esperei a emissão, e a sagração do carimbo. Um gato passeava sobre os guichês, àquela hora dormidos.

Atrás das gôndolas um motorista brincava de carrinho com minha mala, risonho: vruuuum, vruuuuum!

Ao hotel.  Um labirinto que, na urgência da madrugada, me pareceu interminável.

Na portaria um funcionário sonolento apontou meu quarto. Era o primeiro, atrás de uma enorme porta dupla, vermelha, estofada. Liguei o ar e desmaiei. Sobreveio o almoço.

Verifiquei depois que a funcional, na verdade, é a carteirinha de sócio da Afatrems. Coisa pouca.

Liberdade, ainda que tardia

Finalmente deixei a prisão dos aiatolás.

Jornais, canais de notícia, blogs, redes sociais: tudo ameaça o regime, evidentemente insustentável.

A polícia está o tempo todo vigiando. Você sai de um restaurante, lá está o carro verde dos comissários.

Vê-se por que lula é tão amiguinho desse regime: é o que ele gostaria de implantar no Brasil. Controle social da mídia: o PT tem muito a aprender com os aiatolás.

Quanto aos iranianos, deixo para um outro momento. O importante é que consegui livrar-me solto.

O povo que vi nas ruas, não. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Istambul

Da torre Gálata tive uma visão. Um fantasma preto me olhou e atravessou a rua.

Istambul convulsiona. Ajudei uns caras a tacar pedra na polícia, na praça Taksim. Ela nos presenteou com balas de borracha, jatos de água e gás pimenta. 

"Dói, um tapinha não dói, só um tapinha!", entrou cantando a tropa de choque. Ocorreu-nos criticar o desafino dos granadeiros. 

Na volta, bem na esquina onde o tram faz a curva, comprei um baglamas, mais um, de sorte que agora tenho dois para carregar. Se quiser posso jogar um na sua mão, leitor, ou preferes um buzuki?

Seja como for logo saio para um lugar mais tranquilo e muito pacífico: o Irã.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Capadócia

Cheguei hoje. A Capadócia é bem mais do que dizem os manuais. As chaminés de pedra, imensas, são variadas e coloridas. Fiz um passeio de quad, e me emocionei com o vale, multicolorido, e com as cidades dos trogloditas.

Numa delas, um prédio formado no arenito. Massive! Só o que denunciava a montanha era a presença de cavalos pastando no topo.

Daqui a pouco saio para os balões. Meus amigos estão torcendo. Meus inimigos, mais ainda.

Vai ser bom, ora se vai. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pamukkale

Mármore líquido. Uma província de travertino.

Luz excessiva no branco demasiado. Não suportei mais que algumas horas.

Turquia

Provisoriamente serei turco. Cheguei há uns dias, e fui bem recebido. Fiquei em Selçuk, de onde sai para conhecer Éfesos, Priene, Dídima e Mileto.

Fui à casa de Maria, mãe de Jesus. Já ouviram falar?

O que mais me impressionou foi o templo de Apolo em Dídima. Você interage com o monumento, sobe em suas escadarias e colunas, é admitido em seu átrio, mediante um túnel descendente, em mármore.

Algumas colunas vertiginosas, e uma coluna derrubada nos fundos dão uma idéia da grandiosidade que não vislumbrei nem no Partenom, em Atenas.

Na verdade, nessa peregrinação pelo meditarrâneo, o que mais impressionou foram as ruínas gregas de Agrigento e Dídima.

Nessa viagem fui a mais templos do que recomenda a pureza ateia e o bom senso.

Seja como for, saio logo mais para a Capadócia, onde chego pela manhã, para um vôo de balão e outras diversões nesse excelente país.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Rodes

Após um mês peripatético pela Europa, massagem com peixinhos, fechando a Grécia.

Eles esfoliam e limpam, no que me pareceu um carinho.

Eu vinha de uns trinta dias sem lavar os pés, num massacre diário. Sabe, numa viagem você precisa eleger prioridades. Os pés não estavam no topo da lista. Vou lavando outras partes, de sorte que os peixinhos tiveram material para se fartar, conquanto alguns tenham ido a nocaute.

O sapo não lava o pé
Não lava porque não quer...

Nunca entendi essa calunia. As salamandras, por exemplo, muito mais malandras, não sofrem semelhante dissabor.

Eu comera um atum selado no azeite, e salada de lulas marinadas, também ao azeite.

Os peixinhos doutores (não sei quanto dos meus pés eles comeram) fazem flutuar no neon, e sentimos que deveriam continuar.

Saímos mais leves. Os pés, agradecidos, pisam suave o calçamento da velha Rodes. 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Creta

O Lonely diz que essa ilha, onde floresceu a civilização minóica, é a culminação da Grécia. Percebi Creta como a Grécia profunda.

Fui a Samaria, maior cânion da Europa. Eles te conduzem pelas montanhas até uma garganta impronunciável e te soltam na banguela.

Dezoito quilômetros depois você é pescado na portaria, quase chegando ao mar.

Destino mágico. Paredes inesgotáveis, rios que somem sob a montanha e reaparecem, mais necessários e raros. Caminhei por um leito árido, no vértice de um abismo em flor.

Depois as águas me encontraram e foi como se não tivessem sangrado o coração da terra.

Passeio de muitas horas, terminando no mar líbio. De volta a Heraklion, o hippocambos me aguardava, para os frutos do mar que derretem na boca.

Pedi a conta. Veio a sobremesa, não solicitada, mas muito apreciada: petit gateau com cachaça grega. Arrasador. Esse povo sabe mesmo como agradar. 

Creta induz êxtases e contemplações.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Opa

Come-se bem no mediterrâneo, já sabemos, mas na Grécia, e especialmente aqui em Creta, a coisa chega perto da orgia gastronômica.

Ontem pedi um menu fixo, arapuca pra turista. Veio uma sinfonia de delícias, começando por salada grega, pãezinhos quentes com iogurte e terminando num peixe que, de tenro, não pode ser descrito.

Não acreditei: depois do peixe, eu pagaria uns 200. Deu 12. incluído o vinho cretense.

Hoje, no almoço, lulas e polvos no carvão, à perfeição, acompanhados de pimenta verde grelhada, no azeite. Aprendi essa marra de pimenta verde grelhada aqui na Grécia. Uma cerveja grega conformou o conjunto, mavioso.

Quando, horas depois, apareci pra jantar, o garçom não me deixou terminar o pedido. Fui de salada grega com fetta e mexilhões no bafo. Sim, o garçom tinha razão. Era impossível ir mais longe.

O Porto de Heraklion foi cenário generoso.

Opa!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Οια

Entre Φιρα e Οια exercemos a flauta no fio de um penhasco de posses.

O Εγεu argumentava de ambos os lados, um drama.

Delícia essa Grécia que há.

Recebi hoje uma carta. atravessou eras:

"Seu idiota!

O que você fez, dessa vez? Não faço idéia, já que escrevo com dez anos de antecedência. Seja o que for, não tem perdão, esta ouvindo?

Não tem perdão!"

As cartas que me escrevo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Comidinhas

A Grécia delicia. O iogurte é um queijo cremoso, e está em toda parte. Almocei algumas vezes iogurte com nozes, ou frutas vermelhas. Maravilhoso.

Fetta é outro queijo marcante. Assado, com tomates, ou fresco, com azeite, é uma grande entrada a essa cozinha única. Mas o que delicia mesmo são lulas e polvos na brasa. E as costelinhas de carneiro, mexilhões e tudo o mais que o mediterrâneo provê, e que os gregos colhem há mais de 3000 anos, languidamente.

A cozinha mediterrânea são os ingredientes. E preparos sacerdotais.

Em Atenas provei tira-gostos de outro mundo: pimentas verdes curadas, com azeitonas, berinjelas e outras querências gregas. Nunca vi nada igual, na simplicidade e no sabor. Uma tora de pão grego, e fui me abastecendo.

A cozinha mediterrânea, que venho acompanhando com entusiasmo renovado a cada cidade, desde Palermo, passando por Taormina e Nápoles, mostra um aroma e matriz de sabores desconcertantes, herança imprevista da vasta cultura greco-romana, que me assombra.

E eu nem falei dos doces.

Μικονοσ

Ilha apaixonante. Faz jus à fama. Você se encanta de cara com os labirintos brancos e azuis, a luz primal, quase demasiada, a presença do mar.

Delos é pisar terreno sagrado. Subi ao monte, após errar por sua desolação de mármore. É como Pompéia, na fuga pânica dos séculos. 

As praias de Míconos nem valem a visita. Farofa e água fria. 

Saio agora para Santorini, esse penhasco povoado. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Hidra

Hoje visitei três ilhas: Hidra,  Ποροσ e Αεγινα, com um templo soberbo - Φαια.

Na volta interessou-me um buzuki. Já pensou eu de buzuki? Bem, nenhum vôo de respeito aceitaria uma configuração dessas, e acabei com um baglamas, para acompanhar umas músicas rebéticas.

Agora se faz tarde. Amanhã saio de Piraeus rumo a Míconos. Aí é que começa mesmo.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Acrópole

Ela me esperou 2500 anos
e, tal qual Roma,
adivinhem...

As cariátides segredaram:
sou uma discreta reunião
de insuficiências várias. 

terça-feira, 14 de maio de 2013

Roma

2300 anos de história me olham
e não gostam nada do que vêem.

Roma e um mar de travertino
Museu interminável. 

domingo, 12 de maio de 2013

Positano

Sabem o que e magnético? Vou lhes dizer:

Dormir e acordar às expensas do mar azul Positano. Assistir ao balé de barcos em champanhas, com limões e laranjas da Sicília glaceados.

Isso é magnético. O resto é apenas um grande mal-entendido.

Positano: daqui não saio, daqui não me tiram!

Lá vem o sol de novo, visitando a encosta, no inventário de iates.

sábado, 11 de maio de 2013

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Amalfi

Penhascos escandalosos, cada qual mais fela da puta. subi ao terraço para ver o azul.

Eu deparara com uma laranja gigante, em Ravello. "Será laranja ou limão?".

Comprei, na ânsia do cítrico.

Já sabem: passei a tarde degustando o limão, e chorando de azedo.

Isso de limão, Goethe já sabia.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Napoli

Seguinte:

pizza margherita.

Você não acredita. Molho de tomate, mussarela e duas folhinhas de manjericão. Só. Mas você não vai querer outra coisa.

Das cinco vezes que estive na cantina Di Matteo, só uma vez não pedi margherita. Acabo de voltar de lá. Eu tinha sucumbido a um nhoque numa cantina, então seria desonesto uma pizza. Mas ao prosseguir na Tribunali não resisti. Orgia de comida napolitana.

Aposto que o leitor não adivinha o que pedi. Naquele templo napolitano eles preparam a margherita absoluta.

Só não volto lá porque sou muito vergonhoso, e porque saio amanhã cedo para Amalfi.

Vai ser bom, ora se vai.

Pompeii

A cidade reagrupada pela onda de fogo. As pessoas, congeladas, ingressam na história. Impressiona a grandiosidade da cidade sinistrada, mas também a área construída, as formas do cotidiano romano do primeiro século.

A visita a Pompéia é um exercício tridimensional exaustivo. No museu de Nápoles nos sentimos dentro das casas e das vidas daquelas pessoas. Não poderia ser melhor.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Taormina

Deixei Palermo a contragosto. Por mim, ficava mais. Não fui a Cefalu, Segesta e nem mesmo a Selinunte! Que chosa!

Assim não da.

vim me recolher aos pés do Etna. Ele esta bravo, a julgar pelas pedras que tacou em minha sacada.

Ontem, fui ao Stromboli. Gigante matreiro, sempre aprontando. E só você baixar a câmera e ele vomita iras incandescentes, que rolam pela encosta noite adentro, num drama rubro. Depois, da uma fumada e acalma.

Sicília não pode ser abordada em uma semana, como pensei. só as eólias levam esse tempo. Para subir ao vulcão, e arder na lava, você precisa posar na ilha, ir acostumando o vulcão a sua presença. Se não ele estranha.

Algum dia volto, mais prevenido. Por ora, tenho um trem para Napolis, onde chego pela manha.

Novas aventuras, e um vulcão novinho em folha (Vesuvio). Parece que andou assustando umas pessoas, desavisadas.

Agora, jantar siciliano: peixe e pasta, mais pizza. E panini. Bem, o que tiver.

sábado, 4 de maio de 2013

Politeama

Sicília. Após festividades em Palermo, que merece bem mais que dois dias, vim me recolher aos pés do Etna, esse colosso hiperativo.

Não sei se devido às iras do vulcão, a Sicília tem a melhor laranja do mundo. Vermelha, saborosa, intensa. E o limão? Uau! Você não vai querer outro.

Taormina é cidade histórica que ombreia Carcassone, e excede Talim em encantos.

A Sicília é uma aventura de difícil descrição. De um lado, templos gregos. De outro, a herança romana. A tudo presidindo, a comida.

Considero tudo que eu sabia sobre comida mediterrânea um grande mal-entendido. Aqui se cozinha. E aqui se come.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Pace e gioia sia con voi

Começa a viagem. Vaguei a esmo por essa simpatia chamada Milão. Na chegada, ontem, emergi em frente ao Duomo, alvo mármore em formas góticas inesgotáveis.

Bermuda e havaianas chamaram a atenção, e foram devidamente reprovadas na capital da moda européia. Quando as chinelas arrebentaram, marchei descalço por entre Fendis, Armanis, Hermès, para o desgosto de chineses e japoneses, abundantes.

Hoje voltei ao Duomo. Diria que inadvertidamente resisti ao maciço branco. Um certo estranhamento. O mármore vertiginoso, a pedra entregando perfeições pias, a sugestão de transcendência: foi demais.

Refugiei-me provisoriamente na Galeria e provei uma pizza ultra-italiana, honesta e apetitosa.

Voltei à luta com a catedral. Movi a nave no espaco, e obtive argumentos por revolução. Tentei descobrir suas falhas, pesquisei sua projeção nos séculos. Parece que o monolito não consente uma crítica.

Tampouco o monumento me aceitou. Minha arquitetura, insatisfatória, e o acabamento, descuidado, não convenceram.

Seja como for, fui ao castelo e saí pela cidade, seus jardins e cafés. A salada mais inacreditável me aguardava e a burrata era meu destino. Rendido a Sua Excelência, a comida local, fechei a noite no Scalla.

Voltei ao hotel. Emocionados, os funcionários fizeram festa ao me ver calçado.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Manias


Fabrício Carpinejar (Zero Hora, 24/03/13):
Toda mulher elegante preserva um altar brega dentro do armário. Conserva uma gaveta onde guarda recortes de jornais e revistas, cifras de músicas, coleciona souvenires. 

Se ela não tem um santo bagaceiro, a situação é ainda mais grave: ela é completamente brega. Ter unzinho previne outros. (...) 
A razão não vai fazer diferença. Os debates não pousarão em lugar algum. O ídolo está guardado em um esconderijo emocional ignorado, num cativeiro amoroso sigiloso, sem acesso pelas estradas da linguagem.
Hum! Mas se um dia eu chegar 
Muito estranho...

quarta-feira, 27 de março de 2013

Dawkins, Dennett, Sam Harris e Hitchens

Folha - Deus existe?
Richard Dawkins - Nós não sabemos se fadas existem. Nós não levamos a sério a existência do deus nórdico Thor, ou de Zeus, ou de Dionísio ou de Shiva.
Até que tenhamos sérias evidências de que algum deles existiu ou exista, não perdemos tempo com isso. Por que deveria ser diferente com o Deus cristão ou com o judeu ou com o muçulmano?
Folha - E quanto ao que não conseguimos explicar? Não vem daí uma das "necessidades" da religião e da crença no "sobrenatural"?
Eu gostaria que as pessoas não fossem preguiçosas, covardes e derrotistas o suficiente para dizer: "Eu não consigo explicar, portanto isso deve ser algo sobrenatural". A resposta mais correta e corajosa seria: "Eu não sei ainda, mas estou trabalhando para saber".

Ecuador








sábado, 16 de março de 2013

Ceviche em Lima

Um disco amarelo ultima a tarde sobre Lima.

O ceviche visitou delícias peruvianas.

Daqui a pouco saio para Quito,

depois, quem sabe?

O sol desiste do dia,

entrega-nos ao descanso.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Viagens


Planejo a próxima viagem. Pretendo vertiginosos raids sobre as ilhas Cook, Sociedade, Tuamotu e Marquesas (além de Páscoa), todas no Pacífico sul. Convoquei agentes de viagem em cinco milhões de quilômetros quadrados, que me dizem:

E para que você precisa de tanta ilha? Escolha duas, ou três, não mais. Não gostamos de corsários!  

O que lhes digo é:

­Para as ilhas! Depressa! Hei, irmão, vê se não economiza nas ilhas aí, meu velho! Me vê um atol espaçoso e bem ventilado! Essa banquisa, que você me indicou, você não mandaria sua sogra para lá, mandaria?

Ligou-me a Moira, de Papeete. Disse que não pode ser; que a maioria das ilhas requisitadas não admite turistas, e menos ainda quem não fala francês e o idioma local.  Pimpão, lembrei-lhe que, além do francês, ignoro o inglês e todas as línguas do Pacífico. E meu portunhol costuma ser bastante criticado, devido ao estilo (pimpão). Ela me lembrou que a prática canibal não foi complemente esquecida em muitos desses parcéis...   

Esses caras... Nem me conhecem e já estão morrendo de raiva de mim.

Seja como for, são grandes as expectativas.